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23/03/2007
Carta da semana
ESTUDAR PaRA QUÊ? O QUE O FUTURO ME RESERVA?
"Este artigo tem como principal motivação
uma dúvida que atormenta tantos estudantes: "Estudar
para quê?" Por que devo ir à escola? Aonde
irei chegar com os conhecimentos que me são legados
através da educação? Todo o esforço
que realizamos ao longo de vários anos que resultado
tem para nossas vidas futuras?
Essa é uma questão que
está na cabeça de nove em cada dez alunos que
entram nas escolas brasileiras, principalmente a partir da
5ª série (ou 6º ano) do ensino fundamental.
Coincidentemente, é a partir desse momento que esses
alunos começam a perceber que a escola é sempre
a mesma desde o momento em que nela entraram, ainda na educação
infantil.
E é muito provável que
essa dúvida surja em associação com o
próprio descrédito que a instituição
escolar passa a ter perante esses estudantes em virtude de
seu imobilismo, falta de criatividade, desconexão com
os acontecimentos do mundo e ausência de vigor e de
maior interesse pela vida.
Acho, portanto, que essa questão
levantada pelos estudantes direciona-se não só
a eles mesmos, mas principalmente aos pais e educadores. É
uma pergunta de inestimável valor. O que pretendemos
fazer com nossas crianças, adolescentes e jovens que
frequentam os bancos escolares durante períodos de
12 ou 15 anos?
Gostaria de me imaginar na pele de
um menino ou de uma menina de 12 anos ou, quem sabe, até
mesmo no auge da adolescência, aos 15 ou 16 anos...
Influenciado pelos pais ou pelos professores, a resposta desse
aluno(a) seria mais ou menos essa: "Estudo para que no
futuro tenha condições de ter uma profissão
e de me destacar dentro do ramo de trabalho que escolher".
Essa resposta, muito comum entre as
ponderações dos estudantes, é dada com
base em comentários, influências e sugestões
de pais e professores. Seu caráter utilitarista indica
uma tendência associada à própria lógica
e dinâmica do mundo em que vivemos e do sistema sócio-econômico
dominante, o capitalismo. Longe de mim utilizar o espaço
para analisar as estruturas desse modo de produção.
O que vale é a constatação de como há
uma verdadeira camisa de força que nos indica os caminhos
das escolhas profissionais desde a mais tenra idade.
Conheço casos de pais que desde
as séries iniciais do ensino fundamental escolhem as
escolas de seus filhos pensando na aprovação
nos concorridos vestibulares das melhores universidades brasileiras
para os cursos mais disputados, como medicina, direito, engenharia,
administração. Não há nenhuma
preocupação com a felicidade e a formação
integral desses estudantes. E o que quero dizer com isso?
Que carecemos de maior atenção aos aspectos
humanizadores, aqueles que irão assentar as nossas
relações com as outras pessoas e que, também,
nos darão sustentação emocional e intelectual
para compreender o mundo em que estamos inseridos.
Afinal de contas, de que adianta formar
médicos, advogados ou engenheiros que conhecem muito
de suas áreas de trabalho e que tecnicamente são
impecáveis, se esses profissionais não são
capazes de comunicar-se, interagir, respeitar e legar ao próximo
(e a si mesmos) o valor, a dignidade, a simpatia e a felicidade?
De que adianta a vida sem sensibilidade? Onde reside a felicidade
se ela não está nas relações que
estabelecemos com o mundo e com as pessoas? Não adianta
apenas o domínio da técnica se não falamos
ao coração, se não atingimos a alma.
O que se vê é um distanciamento
entre a sala de aula e as ruas, a vida, as pessoas, os acontecimentos
do dia-a-dia. Matemática que ensina tendo por base
os mercados onde as famílias fazem suas compras; história
ensinada nas praças públicas, no contato com
as pessoas de mais idade, no exame do nome dado a ruas; português
aprendido com o auxílio da música, do teatro
ou de jornais diários; geografia entendida pelo passeio
e observação dos processos produtivos ou das
características naturais de um ambiente a partir de
visitações; em suma, a escola precisa do mundo
para se mostrar viva, atraente, envolvente e significativa
para os estudantes.
Tornar a escola um espaço em
que há uma preocupação demasiada com
a formação profissional, o mercado de trabalho,
o conforto futuro que todos desejam ter e a possibilidade
de ter uma conta bancária polpuda não pode nunca
ser o principal objetivo da sociedade e da educação.
E, em muitos casos, é isso exatamente que está
acontecendo. Trata-se de uma enorme irresponsabilidade de
todos aqueles que são artífices e cúmplices
desses acontecimentos.
A escola deve emancipar. A educação
deve dar asas. Os professores têm que incentivar o espírito
científico. Nas salas de aula temos que ensinar ética,
respeito, civilidade. O ser humano íntegro, seguro,
confiante e feliz deve ser o objetivo maior de todo e qualquer
processo e realização educacional. Desse modo
teríamos então respondido de um modo mais do
que satisfatório à pergunta que inicia essa
reflexão...", João Luís Almeida
Machado, professor universitário - profjoaoluis@planetaeducacao.com.br
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